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Choro no feminino e feijoada: Vila do Porto recria ritual de brasilidade em manhã de domingo

Com o duo Dany Danttas e Laídia Evangelista, projeto ‘Chora que Passa’ une um dos pratos mais emblemáticos do país à sonoridade de um gênero musical que se renova nas mãos de uma nova geração de instrumentistas.

JOÃO PESSOA – Existem combinações que formam a espinha dorsal da cultura afetiva brasileira. Café com pão de queijo, Romeu e Julieta, e, talvez a mais celebrada, feijoada com samba ou choro. É para celebrar este último e indissociável par que a Vila do Porto, em João Pessoa, transforma seu espaço em um grande quintal brasileiro na manhã deste domingo (31). O evento “Chora que Passa”, protagonizado pelas musicistas Dany Danttas e Laídia Evangelista, propõe um mergulho em um dos ritos mais autênticos da nossa sociabilidade.

A proposta é simples e potente: oferecer música instrumental de altíssima qualidade acompanhada de um prato que é, por si só, um evento. No palco, um duo feminino que vem se destacando na cena musical nordestina; nas panelas, a promessa de uma feijoada completa. O encontro, marcado para às 11h, é um convite a um almoço de domingo demorado, embalado por um gênero que, apesar do nome, é pura virtuosidade e alegria.

Curiosidade 1: O título que consola e convida

O nome do projeto, “Chora que Passa”, é uma pequena genialidade. O trocadilho inteligente une o nome do gênero musical – o Choro, primeira música urbana do Brasil – a um dos ditos populares mais brasileiros, usado como consolo. A expressão sugere a capacidade catártica da música: a arte que cura, que lava a alma. Ao mesmo tempo, desconstrói a ideia de que o choro é uma música unicamente melancólica. Na verdade, o gênero é marcado por harmonias complexas, improvisos ágeis e um balanço contagiante, provando que, após a lágrima (ou o “choro” do clarinete), vem a superação e a festa.

Curiosidade 2: O protagonismo feminino em um universo masculino

Historicamente, as rodas de choro foram dominadas por figuras masculinas. O gênero, com sua exigência técnica, foi por muito tempo um clube de virtuosos. O trabalho de Dany Danttas (clarinete) e Laídia Evangelista (bandolim de 10 cordas) é um dos muitos exemplos de uma nova e bem-vinda realidade. Elas não apenas dominam seus instrumentos com maestria, mas trazem uma nova sensibilidade ao repertório clássico de mestres como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo, além de apresentarem composições autorais. É a prova de que a tradição, para se manter viva, precisa ser constantemente reocupada e ressignificada.

“O choro por muito tempo foi visto como algo de ‘seresteiro antigo’, de uma outra época”, analisa Laídia Evangelista. “Nosso trabalho é mostrar que ele é uma música viva, pulsante e absolutamente contemporânea. E sim, é um espaço que nós, mulheres, estamos ocupando com muita alegria e propriedade. ‘Chora que Passa’ é sobre isso: a emoção da música que cura, que renova.”

Curiosidade 3: A curadoria da experiência completa

Ao oferecer a feijoada como parte central do evento, a Vila do Porto demonstra uma curadoria que vai além da música. A casa não está vendendo apenas um show, mas uma experiência cultural completa. A combinação de choro e feijoada no almoço de domingo é um pilar do lazer brasileiro, um momento de agregação familiar e social. Ao trazer esse ritual para dentro de um espaço cultural profissional, o evento legitima e celebra uma prática do cotidiano, elevando-a à categoria de acontecimento cultural imperdível.

Para quem busca um programa de domingo que alimente o corpo e o espírito, a manhã na Vila do Porto se apresenta como a síntese perfeita de uma brasilidade que se orgulha de seus sabores e de seus sons.

SERVIÇO

O quê: “Chora que Passa” com Dany Danttas e Laídia Evangelista + Feijoada

Quando: Domingo, 31 de agosto, às 11h

Onde: Vila do Porto – João Pessoa (PB)

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